Solenidade da Anunciação do Senhor
Hoje celebramos a solenidade da Anunciação do Senhor. É uma festa cristológica. Celebramos Jesus, mas Maria está completamente envolvida neste mistério. O Arcanjo Gabriel e o próprio Deus esperavam dela um sim, para que nós pudéssemos estar aqui hoje celebrando a sua misericórdia que nos alcançou.
O menino Jesus então nasce e vive toda a sua existência fazendo a vontade do Pai de modo exemplar para nós.
Com a sua oferta, o seu corpo entregue, o seu sangue derramado, esta Eucaristia que testemunha essa presença do amor desse Filho pelo Pai, e com uma obediência perfeita, a vontade de Deus não é proposta apenas de modo exemplar para nós, mas também redentor. Ele conquistou para nós a graça de também vivermos unidos a ele pela graça e pela força do Espírito Santo, e assim vivermos a vontade do Pai.
Espiritualidade de Jesus Cristo
Essa é a espiritualidade cristã, em que Jesus assumiu a nossa humanidade e viveu uma entrega perfeita para a glória de Deus Pai. Essa é a espiritualidade cristã conduzida pelo amor que há entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É a espiritualidade de Jesus Cristo comunicada a nós pela graça do batismo.
Portanto, quando falamos de uma nova humanidade olhando para Jesus, precisamos reconhecer o dom que cresce em nossos corações, do desejo de santidade e da graça para nela crescer dia após dia em uma realidade de gestos, atitudes e decisões cotidianas. Por vezes simples, por vezes difíceis e complexas, por vezes quase sem ser percebidas, e outras vezes engajando toda nossa existência e definindo um novo rumo para a nossa história.
Essa é a espiritualidade cristã: o desejo que o Espírito Santo derrama em nossos corações de agradar ao Pai. Se você tem esse desejo, é porque você recebeu essa graça do Espírito Santo, e o Espírito no seu coração se dirige continuamente ao Pai.
A Igreja nasceu de um núcleo comunitário
A espiritualidade cristã é eminentemente comunitária, e assim a Igreja nasceu. Jesus formou os doze discípulos, formando cada um e formando-os nas relações fraternas, e assim se deu a formação do primeiro núcleo da vida cristã, da comunidade cristã.
Há uma comunidade anterior a essa dos doze discípulos. Ela estava presente em Nazaré. Uma família cristã, batizada em Cristo pela presença de Cristo entre eles: José, Maria e Jesus. Eram os três espelhando a Trindade, e formando um núcleo comunitário.
A vida na Igreja é uma expressão da misericórdia divina, é sacramento de Jesus. Não se pode dizer que sigo a Cristo, enquanto estou longe da Igreja. É o mesmo que dizer que amo a Cristo, e desprezar seu corpo místico.
A Igreja querida por Deus é necessária para nossa salvação, mas aqui a Igreja, como instituição, precisa se tornar lugar de relacionamento, de desafio de conversão, de desafio de vivência do Evangelho nas relações humanas recíprocas do cotidiano. Por isso, a Igreja deve encontrar forma para cada um em uma pequena comunidade.
As novas comunidades
Pensando nesta novidade do Espírito, que são as novas comunidades no mundo inteiro, e refletindo sobre essa grande proposta que tomou forma e intensidade na Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizada em Aparecida (SP), o Brasil assume com muita coragem a realidade de que as paróquias se tornem comunidades de comunidades.
Essas comunidades não são comunidades que tenham uma capela ou um bairro inteiro com a sua capela. As comunidades são núcleos de dez, doze, quinze pessoas.
Nessa realidade, me veio à mente que talvez as comunidades de vida e aliança, suscitadas com os seus carismas, tendo o seu valor próprio, sejam ao mesmo tempo, profecias que Deus quer realizar em toda a Igreja, em todas as paróquias. Não necessariamente com carismas específicos, mas como realidade concreta de expressão da realidade eclesial.
Convite a ser fermento de vida comunitária
Hoje quero convidar a Comunidade Mel de Deus nesta Diocese, e onde o Senhor vos enviar em missão, a ser fermento de vida comunitária. É um convite aos que reconhecem o chamado para viver no mesmo carisma internamente, e se não, é também um grande estímulo à capacidade de formar comunidades com o carisma da catolicidade, comunidades de católicos que vivam e testemunham o evangelho, e se amam como irmãos e se comprometem uns com os outros.
A salvação é para todos. E hoje, nós estamos sendo inflamados pelo Espírito Santo, por esse amor profundo pelo Pai, mas que não pode ter a marca do individualismo do nosso tempo. O amor a Deus com a marca individualista, não serve para esse tempo da Igreja.
O amor ao Pai suscita em nós um desejo de salvação de toda a humanidade. E isso será possível se nós nos engajarmos completamente no anúncio do Evangelho, no testemunho de Jesus Cristo, conhecendo a vontade do pai, convocando irmãos e estreitando relações, vínculos de relacionamento. Isso é possível em pequenas comunidades.
Ser profecia, não é ser qualquer coisa. É uma grande responsabilidade. É preciso afinar os ouvidos para não misturar a palavra humana com a palavra divina.
Que nesta Diocese não fique ninguém sem ser exortado pelas nossas vidas. Que nesta Diocese não fique ninguém sem ser tocado pela expressão da misericórdia do Pai, pela caridade de Cristo.
Que todos se sintam atraídos para o seio da Igreja, não para sermos mais numerosos, mas para que Jesus seja conhecido e amado. E sendo conhecido e amado, possa fazer todo o bem a cada irmão e irmã, que somente ele pode fazer. Que sejamos fermento de vida comunitária aonde o Senhor nos enviar.
Dom Waldemar – 25/03/2019 (10 anos da Comunidade Mel de Deus)