No Evangelho de São Lucas, os discípulos de Emaús, depois de terem visto Jesus, seus olhos se abriram e sentiram seus corações aquecidos. E ao retornarem a Jerusalém, se encontraram com os onze apóstolos que confirmaram:
“Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão.” (Lc 24, 34)
Cuidado em ser muito autoconfiante
Jesus mudou o nome de Simão, para Pedro. Simão significa caniço do mato, agitado pelo vento, ou seja, uma pessoa inconstante, que não tem muita firmeza. Deus mudou o nome dele para Kefas, que significa Pedro, ou pedra, que é justamente o contrário de Simão.
Então, Pedro ficou muito autoconfiante. Ficou tão autoconfiante, que chegou a pensar que todos poderiam negar Jesus, menos ele. Quando começamos a confiar demais em nós mesmos, mesmo que tenhamos muita experiência na caminhada de fé, temos que desconfiar de nós mesmos.
Pedro confiava demais em si, e não ouviu Jesus predizendo que ele iria negá-lo, ou, se ouviu, não prestou atenção. Pedro chegou a ter coragem de decepar a orelha do servo do sumo sacerdote, cujo nome era Malco, mas depois fugiu, e ficou com um sentimento ruim e de que não deixaria o Senhor sozinho. Então partiu para a casa do sumo sacerdote Caifás, e ali ele ficou em oração, mas ao mesmo tempo, não vigiou como deveria, e por isso viria a negar o Senhor. Ele saiu dali destruído, arrasado e chorando amargamente.
Naquela noite, dois corações ficaram despedaçados por terem traído Jesus. O de Pedro, e também o de Judas. Judas traiu Jesus, mas tocado pelo remorso, procurou devolver o dinheiro aos captores de Jesus, porém, por orgulho, não se arrependeu.
Pedro precisava da aparição de Jesus
Eu acredito, meus irmãos, que foi Nossa Senhora que convenceu Pedro a não fazer uma loucura. Acredito que ela possa ter tentando convencer Judas, mas não conseguiu. Porém, ela conseguiu convencer Pedro. Entretanto, ele ainda precisava da aparição de Jesus.
Jesus vai aparecer aos onze apóstolos e aos discípulos de Emaús, mas Pedro precisava passar por uma experiência pessoal e única, e ter a certeza que o Senhor o perdoaria. O Evangelho não conta essa aparição. Há coisas na nossa vida que são muito íntimas e pessoais.
Quando você busca a confissão, em que é só você e o sacerdote, você e Cristo, você sai ressuscitado, mesmo que ainda precise de um pouco mais de cura, assim como Pedro também precisaria das próximas aparições de Jesus para ser curado.
O pecado deixa você fraco
Quando cometemos um pecado, principalmente quando temos consciência que estamos pecando, o Senhor nos avisa. E quando a gente cai, as consequências podem ser muito trágicas, e teremos que passar um longo período de cura. Por isso temos que fazer de tudo para evitar o pecado.
Você não pode dizer que vai pecar, apenas justificando que vai se confessar porque Deus te perdoa sempre. Quando você comete um pecado, você se torna muito mais fraco, e será preciso que você tenha muito mais experiências com Deus. A gente luta para ter uma experiência com Deus, e podemos perder tudo em um momento de fraqueza. Por isso orai e vigiai. Tenha humildade. Quem está de pé, tenha cuidado para não cair. Essa é a grande lição da misericórdia de Deus.
Pedro teve a chance de experimentar a misericórdia de Deus, e foi ressuscitado por Jesus. Posteriormente, Jesus vai aparecer a ele mais uma vez. E Pedro foi crescendo. Em Pentecostes, Pedro transbordando do Espírito Santo, falou, e três mil pessoas se converteram.
A hora da misericórdia
Agora vemos Pedro e João celebrando Jesus Misericordioso. Eles vão para o templo as três horas da tarde. Porque essa hora tão especial? Pedro aprendeu que Deus age em todas as horas, mas principalmente às três horas da tarde, a hora da sua paixão, uma hora de grande misericórdia.
Os raios do coração de Jesus tinham inundado a alma, a mente e o coração de São Pedro. Ele chegou a experimentar a sua miséria e fraqueza, mas agora, era outra pessoa, e não mais confiante nele mesmo, mas totalmente confiante em Jesus, na sua divina e excelsa misericórdia.
Você não é um pedinte. É um filho de Deus.
Pedro e João subiram ao Templo para a oração, e encontram um homem coxo de nascença. Coxo de nascença, significa pecado. Esse homem representa toda a humanidade. Nós já nascemos pecadores.
Ter pecado, é você ter um ou outro desvio, entretanto, nós já nascemos com a tendência ruim. Mesmo com o batismo que apaga o pecado original, a tendência ruim continua em cada um de nós, porque nós somos livres, e por isso, continuamos pecadores.
Esse coxo de nascença sou eu, é você, é cada um de nós que muitas vezes estamos como Pedro e João, também no Templo. Mas o que o coxo estava fazendo ali? Ele foi para rezar e para pedir esmola.
Talvez você seja um pedinte, você só vai à igreja para pedir uma graça, uma esmola ou uma migalha de Deus. Mas você não é um pedinte, você é um filho de Deus. Você não vai à igreja só para pedir um favor ou uma graça, e sim para encontrar o Deus da misericórdia, dos milagres. Você vai atrás do Senhor dos impossíveis, e não somente atrás do seu impossível. Pare de ser pedinte. Acredite na misericórdia.
Quando o pedinte viu Pedro e João entrando no templo, pediu uma esmola. Os dois olharam bem para ele, e o pedinte ficou feliz achando que iria receber uma benção, uma esmola muito boa!
E Pedro diz: “Olha para nós!” Em outras palavras, é o mesmo que dizer: Eu sou igual a você, eu tinha tudo para ser um pedinte igual a você, ou até mais miserável.
Então Pedro diz: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” Foi o mesmo que dizer: Não vou lhe dar algo material. Eu sei que é isso que você quer, mas não é só isso que você precisa.
Meu irmão, você quer continuar recebendo apenas esmola, apenas algo material que pode resolver só um pouco do problema da sua vida, ou você quer receber uma vida nova, sair dessa vida paralisada, essa vida que você não cresce espiritualmente? Muitos de nós passam a vida inteira na Igreja como pedinte, dizendo que reza tanto e não consegue seus impossíveis.
Tem gente que se acostuma a ser pedinte. Eu me lembro da história de um homem de João Pessoa, que tinha uma ferida, e descobriram que ele furava a ferida para continuar pedindo nas ruas. Ele quase precisou amputar a perna pela gravidade do caso.
Depois de um tempo, a ferida não cicatriza mais, e podemos até nos acostumar com a dor. Eu sei que tudo poderia ser bem mais fácil, e falando assim parece ser muito simples, mas é claro que existem muitos problemas sérios. Mas este é um dos dramas da nossa vida.
“Na mesma hora, os pés e os tornozelos do homem ficaram firmes. Então ele deu um pulo, ficou de pé e começou a andar. E entrou no Templo junto com Pedro e João, andando, pulando e louvando a Deus.” (At 3, 7)
Quem foi curado, não fica atrás de pessoas e de esmola, e sim, louvando a Deus! O povo viu o homem pulando e louvando a Deus, e reconheceu que era o mesmo que pedia esmola.
Tenha a certeza que sua família também vai te reconhecer. Como você chega em casa depois de ir à Santa Missa? Comece a testemunhar. Deixe a graça de Deus entrar no seu coração, assim como São Pedro. Não confie em você mesmo, e muito menos em outros homens.
Frei Josué – 24/04/2019 (Semana da Misericórdia)