A essência do cristianismo é o amor a Deus e o amor ao próximo. Muitos cristãos ainda vivem a Lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente”. Mas quando nos aprofundamos na busca do discipulado e olhamos para Jesus, passamos a entender que não dá para o coração ter dois sentimentos lado a lado, de vingança e de perdão.

Quem ama, perdoa

No Evangelho, Pedro faz uma pergunta a Jesus:

“Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: ‘Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.’” (Mt 18, 21)

Existem pessoas que não conseguem perdoar nenhuma vez, porque para elas é difícil compreender como perdoar alguém que um dia lhes prejudicou.

É preciso ter amor no coração. Quem ama perdoa. Só amando como Jesus, que seremos capazes de olhar para o outro e perdoar como ele: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem.” (Lc 23, 34)

Para amar e perdoar, é preciso realmente estar dentro de um processo com o desejo de viver a santidade, de ser Jesus no mundo e de aprender com ele a ser manso e humilde de coração.

Cicatriz, sinal de vitória

Para você ter a certeza de que conseguiu perdoar alguém, é preciso se lembrar do que lhe fizeram, e não sentir mais dor. Você vai olhar para a cicatriz, e ter a certeza de que ela é um sinal de vitória, e assim poderá dizer: Eu venci essa ferida, essa mágoa que me causaram.

O curativo para essa ferida, é perdoar a pessoa que lhe feriu e rezar por ela. Não sabemos quantas vezes é necessário fazer esses curativos em uma ferida, mas é necessário prosseguir com os remédios, ainda que a dor persista no seu coração, até você ter certeza que cicatrizou, e essa cicatriz já não lhe causa mais dor.

Ao decidir perdoar alguém, o mais beneficiado é você

Para perdoar alguém, você não precisa esquecer a situação, mas apenas ter certeza que aquela mágoa não lhe afeta mais, e não tira a sua paz e serenidade.

Devemos ter a essa consciência de que quando alimentamos a mágoa, o ressentimento ou o ódio de alguém, os mais prejudicados somos nós mesmos. Quando você decide perdoar alguém, o mais beneficiado será você.

Algumas pessoas acham que perdoar alguém que lhe fez mal, é aceitar que essa pessoa esteja certa e com a razão. Isso não é verdade. É como se você pudesse pegar um cheque que eu esteja lhe devendo a muito tempo, e você rasgar esse cheque. Esse é o preço de caminhar com Jesus.

Nossas dívidas são pagas, e nossos erros e pecados, Deus vai nos perdoando e nos dando força quando queremos realmente viver uma vida nova.

Colocar amor onde não há

Muitas vezes, eu peço às pessoas para começarem o processo da cura do coração rezando pela pessoa que fez mal a elas. Porém, a maioria das pessoas tem dificuldade, porque o coração dói muito. Mas na medida em que a pessoa pede, o coração vai aceitando a possibilidade de realmente perdoar, por amor a Deus.

Permita-se hoje também ser curado, e fazer a oração de amorização, que significa colocar amor onde não há. Em oração, peça a Jesus, diante da presença dele, que você quer perdoar a pessoa por isso e por aquilo, e permita que Deus tire o ódio, a tristeza e a dor. Reze, pedindo: Em nome de Jesus, eu perdoo (o nome da pessoa).

O perdão nos liberta

Às vezes, ao olhar para o semblante de alguém, percebemos o que o ódio, a tristeza, a angústia e o ressentimento causou no coração dessa pessoa, até mesmo no aspecto físico. Muitas doenças são provenientes de ressentimentos e de mágoas.

Quando você decide perdoar, você está libertando também o seu corpo das doenças psicossomáticas. Problemas cardíacos, úlcera, depressão, nódulos e até mesmo tumor. São doenças físicas, que podem ter como origem a dificuldade de perdoar.

É perdoando que se é perdoado

Quando rezamos o Pai Nosso, dizemos: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Nós também devemos perdoar as pessoas que um dia nos causaram mal. Se você não for capaz de repetir isso com o seu irmão, você não vai receber também o perdão no dia do seu julgamento. Porque com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também (Lucas 6, 38).

Que nós possamos ser acolhedores, assim como Deus é acolhedor conosco, nos perdoando. É possível perdoar, porque Deus nos dá a sua graça.

Que cada um de nós reflita e lembre não apenas das pessoas que nos causaram dor e sofrimentos, mas também quantas pessoas nós prejudicamos e magoamos. E assim, tenhamos coragem de perdoar, e também, pedir perdão.

Permita-se querer amar. Amar é decisão, assim como perdoar também é decisão. Diga: Eu quero ser de Deus, eu quero ser santo. Ou santos ou nada, queremos ser.

Frei Marcos – 26/03/2019 (10 anos da Comunidade Mel de Deus)

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