Em sites católicos no Brasil ou no exterior, é praticamente impossível encontrar informações seguras e embasadas sobre os corpos de santos com fama de incorruptibilidade. E assim esse aspecto da devoção católica fica sempre mais confuso e nebuloso. 

Grande parte dos corpos divulgados por aí como “incorruptos” NÃO o são, de fato. É muita desinformação!

Ao notar essa lacuna, fizemos um amplo estudo. A seguir, você encontra as informações mais importantes, com indicação de fontes de peso.

O QUE SÃO CORPOS INCORRUPTOS?

Antigamente, a Igreja costumava declarar como miraculosamente incorrupto o corpo de uma pessoa de vida santa que, muitos anos após a morte, foi encontrado em estado de preservação incomum, sem sinais de putrefação.

Esse seria um sinal de Deus, indicando que aquele santo a tal ponto se afastou do pecado que sua carne foi preservada da corrupção. Assim, ele estaria sendo preparado para a gloriosa ressurreição do corpo.

Esse sinal contava “pontos” a favor do fiel falecido, em um processo de beatificação ou canonização. 

A principal referência para definir o que são corpos incorruptos é o capítulo De Cadaverum Incorruptione do clássico tratado do Cardeal Lambertini (que depois seria o Papa Bento XIV): De servorum dei beatificatione et beatorum canonizatione.

Para ser considerado miraculosamente incorrupto, um corpo deveria:

  • não ter sofrido nenhum processo artificial de embalsamamento;
  • manter sua cor, frescor e flexibilidade semelhantes à vida por muitos anos após a morte.

Se o corpo fosse encontrado em bom estado, mas começasse a se deteriorar muito rapidamente após a exumação, não poderia ser considerado incorrupto. Se isso acontecesse, seria evidente que estava preservado devido às condições naturais do túmulo, e não devido a um milagre.

Entende-se que o corpo incorrupto miraculosamente vai se desintegrando com o tempo, mas de forma muito lenta.

QUANTOS CORPOS INCORRUPTOS EXISTEM?

Não há nenhum estudo atualizado e confiável que permita afirmar quantos corpos realmente incorruptos existem na Igreja.

Um livro do padre Quevedo afirma que há mais de 2 mil corpos incorruptos. Mas, quando Quevedo escreveu, as pesquisas da equipe de cientistas do Vaticano ainda não haviam sido publicadas. Então, vários santos que ele afirmou serem incorruptos (como Santa Clara de Montefalco) foram na verdade embalsamados. Portanto, suas conclusões sobre esse assunto estão defasadas.

Muitos também usam como fonte o livro de Joan Carrol Cruz: “The Incorruptibles”. Apesar da seriedade e boa vontade da autora, o livro tem pouco valor científico. Vários santos ali tidos como “incorruptos” nunca o foram, conforme atestado no estudo dos cientistas convocados pelo Vaticano.

AS MAIS RECENTES PESQUISAS DO VATICANO

Hoje em dia, a Igreja não leva mais em conta o estado de preservação do corpo em um processo de canonização

Eis o motivo: com as novas descobertas arqueológicas e científicas, sabe-se que certas condições de uma sepultura podem suprimir quase que totalmente a ação das bactérias e outros agentes deteriorantes. E assim pode ocorrer a mumificação natural (em ambiente muito seco) ou a adipocere (em ambiente muito úmido). É raro, mas acontece.

Em 1975, o Monsenhor Gianfranco Nolli, então diretor do Museu Egípcio do Vaticano, montou uma equipe de cientistas para desenvolver novos métodos de preservar relíquias. Era um time multidisciplinar, com médicos, microbiotécnicos, radiologistas, antropólogos e embalsamadores.

Foram mais de 30 anos de trabalho. De 1975 a 2008, o grupo mumificou ou restaurou os corpos (e partes de corpos) de 31 santos e católicos notáveis.

Muitas descobertas interessantes foram feitas durante a atuação dessa equipe de pesquisadores do Vaticano. A principal delas foi a de que muitas das relíquias que eram consideradas “miraculosamente incorruptas” estavam, na verdade, mumificadas – por processo natural (devido às condições ambientais) ou por embalsamamento.

Para saber mais sobre essas pesquisas do Vaticano, veja o livro “The Mummy Congress”, de Heather Pringle.

SÓ EXISTEM CORPOS INTACTOS NA IGREJA CATÓLICA? MITO!

Em 1999, no topo do vulcão Llullaillaco, nos Andes, uma equipe de arqueólogos fez uma descoberta formidável: os cadáveres bem conservados de três crianças incas

Todos os órgãos das Crianças de Llullaillaco estavam intactos, e havia sangue congelado no coração. Elas foram sacrificadas aos deuses há mais de 500 anos!

A preservação dos corpos foi totalmente obra da natureza, pelo extremo frio e alta umidade. Esse e outros exemplos derrubam a tese de que só existem corpos íntegros (sem embalsamamento) na Igreja Católica.

A seguir, vamos falar um pouco sobre o histórico de exumações e exames feitos em alguns dos corpos de santos com fama de incorruptibilidade. É impossível tratar de todos aqui, então selecionamos somente alguns casos mais notáveis.

SANTA BERNADETTE SOUBIROUS

Santa Bernadette foi a vidente de Nossa Senhora em Lourdes. A primeira exumação de seu corpo foi em 1909, 30 anos após a morte. 

Seu corpo não foi submetido a nenhum exame científico moderno. Com os recursos disponíveis na época, dois médicos verificaram que seus corpo estava preservado de forma incomum, e sem mal cheiro. E não havia sinal de embalsamamento.

Mas ela estava lindona, como aparece nas fotos encantadoras de seu corpo? Não.

Um documento mantido no convento de Saint-Gildard em Nevers, assinado pelos médicos examinadores, “Drs. CH. David e A. Jourdan”, afirma:

  • “A pele se agarrava aos músculos e os músculos aderiam aos ossos”;
  • “O nariz estava dilatado e encolhido”;
  • “…todo o corpo murcho podia ser visto, rígido e tenso em todos os membros”;
  • “As costelas se projetavam, assim como os músculos dos membros”;
  • “O corpo era tão rígido que podia ser rolado para trás e lavado”.

Um detalhe incômodo: se formos rígidos ao aplicar os critérios do documento do Cardeal Lambertini a esse caso, teríamos que dizer que o corpo de Santa Bernadette não estava miraculosamente incorrupto, apesar do seu extraordinário estado de preservação. Porque Lambertini é claro ao dizer que o corpo não pode apresentar rigor mortis (rigidez)… E o corpo de Bernadette estava rígido como uma tábua.

Outro ponto a se notar é que, nas poucas horas em que foi exposto ao ar, o corpo começou a ficar preto. Sinal de ausência de fator sobrenatural? Segundo o clássico parecer do Cardeal Lambertini, sim.

Após a terceira exumação do corpo de Santa Bernadette Soubirous, a Igreja decidiu expor a relíquia aos fiéis. O ano era 1925.

Porém considerou-se que a aparência do rosto não estava agradável de ser contemplada. Então o escultor de figuras humanas de cera mais renomado de todo o Ocidente foi convocado: Pierre Imans. Seu ateliê era responsável pela confecção dos manequins hiperrealistas das mais ilustres vitrines de Paris, do restante da Europa e também dos EUA.

O ateliê de Pierre Imans produziu as mãos de cera e a máscara de cera que, desde então, recobrem os restos mortais da vidente de Lourdes.


SANTO PADRE PIO DE PIETRELCINA
Em 2008, o Tribunal Eclesiástico e a Comissão de Peritos envolvidos na exumação e tratamento do corpo do Padre Pio deu uma entrevista ao jornalista italiano Stefano Campanella. A entrevista foi publicada na edição de maio de 2008 da revista “Voce di Padre Pio” (veja aqui).
Nenhum dos peritos e autoridades envolvidas com o exame de seu corpo jamais afirmou a existência de um milagre de incorruptibilidade. 
Uma parte do corpo estava bem preservada e não havia mau odor, mas os membros inferiores e as mãos estavam muito deteriorados (como é possível observar na foto abaixo).
A parte de cima da cabeça estava esquelética, não havia olhos nem nariz. Por isso foi produzida uma máscara de silicone, que recobre totalmente o rosto do santo. Ao olhar a máscara, muitos pensam se tratar, efetivamente, do rosto do santo.

SANTA RITA DE CÁSSIA E SANTA CLARA DE MONTEFALCO

Seus corpos eram sempre citados como incorruptos. Porém, a equipe de cientistas convocada pelo Vaticano descobriu que elas foram embalsamadas.

Sobre isso, ver o estudo publicado pelo Dr. Ezio Fulcheri, patologista que examinou esses dois corpos: “Canonic recognitions and scientific investigations on the Mummies of Saints“.

SANTA CATARINA LABOURÉ

O corpo da vidente de Nossa Senhora das Graças (Medalha Milagrosa) foi encontrado em extraordinário estado de preservação, mais de 50 anos após a sua morte. Inclusive os braços e pernas estavam flexíveis.

Em 1876, ela foi sepultada em uma cripta, em caixão triplo, sendo um dos caixões de chumbo. Essas condições, não tão raramente assim, impedem a ação dos agentes deteriorantes.

Poucas horas após a exumação, a pele do corpo começou a escurecer – conforme o relato do Dr. Didier. Isso pode indicar que o estado de preservação incomum fosse devido apenas à falta de contato com o ar. Para deter a inevitável deterioração que se seguiria daí por diante, os médicos a embalsamaram.

As mãos foram amputadas e levadas para o claustro das noviças. Ou seja, as mãos que se veem hoje, sobre o corpo da santa, são peças de cera. O rosto em exposição também é uma máscara de cera.

Esse relato pode ser encontrado no livro de Edmond Crapez, “Blessed Catherine Labouré”.

SANTA JACINTA MARTO

Jacinta foi uma das três videntes de Fátima, e faleceu em 1920, com apenas 10 anos de idade.

A primeira exumação foi realizada em 1935, quando o corpo foi transladado do cemitério de Vila Nova de Ourém para o cemitério paroquial de Fátima.

Ainda no cemitério, o caixão de zinco foi aberto. O rosto estava aparentemente intacto. Ninguém verificou as condições do corpo.

Sobre a segunda exumação, há um relato confiável e rico em informações no aquivo do antigo serviço de notícias da Conferência dos Bispos Americanos (National Catholic Welfare Council – NCWC, atual Catholic News Service – CNS).

O relatório foi escrito por I. M. Kingsbury, que compareceu à segunda exumação em Fátima como representante da mídia oficial do santuário português, “A voz de Fátima”.

O exame canônico ocorreu em 1951. Dois médicos foram os responsáveis pela perícia: Maximino Correia, Reitor da Universidade de Coimbra, e Hermani Monteiro, da Faculdade de Medicina do Porto.

Do corpo da pequena pastorinha praticamente só restavam os ossos. Mas e o rosto? Permanecia incorrupto? Kingsbury esclarece: “A resposta parece ser negativa”.

Após a morte de Santa Jacinta, seu caixão foi hermeticamente selado, o que impediu que o corpo entrasse em contato com o ar e seus agentes deteriorantes. Isso, somado às condições climáticas, provavelmente possibilitou a extraordinária conservação do corpo.

Após a abertura do caixão na primeira exumação, as condições que isolavam o corpo dos agentes deteriorantes desapareceram. Ao entrar em contato com o ar, o corpo começou a seguir seu caminho natural de decomposição (foto abaixo).

SANTA ZITA DE LUCCA

Santa Zita é padroeira das serventes e empregadas domésticas. 

Seu corpo foi exumado pela primeira vez em 1580 – mais de 300 anos após a morte. E foi encontrado intacto. Seria maravilhoso se naquela época fosse possível fazer registros fotográficos!…

Com o tempo, o corpo foi se mumificando. Segundo o doutor Gino Fornaciari, enviado do Vaticano, o corpo de Santa Zita não foi preservado por nenhum meio artificial. Ainda hoje conserva todos os órgãos internos.

No exame do corpo, foram utilizadas as tecnologias mais variadas e avançadas. Isso permitiu constatar inclusive que o pulmão da santa foi gravemente afetado pelos muitos anos que passou trabalhando na cozinha, devido à fumaça tóxica do fogo e das lamparinas.

Um artigo científico foi publicado com as conclusões detalhadas do Dr. Fornaciari: “Santa Zita DI Lucca: Malattie, Ambiente e Società Dallo Studio DI Una Mummia Naturale Del XIII Secolo”.

SÃO VICENTE DE PAULO

Em 1712, 52 anos após a morte, o corpo de São Vicente de Paulo foi exumado pela primeira vez em Paris. Segundo os relatos dos dois médicos presentes, o corpo estava íntegro.

Porém, anos depois houve uma inundação na igreja. Resultado: o seu túmulo e o corpo do santo foram atingidos pelas águas. Por ocasião da segunda exumação, em 1960, somente seus ossos foram encontrados.

Hoje, seus restos mortais ficam dentro de uma escultura de cera.

SANTA CLARA DE ASSIS

Em 1987, a equipe do Vaticano limpou e restaurou os restos mortais da irmã espiritual de São Francisco de Assis.

Apesar de ter fama de incorrupto, o corpo de Santa Clara apresentava somente ossos. O “rosto” que pode ser visto em exposição, na verdade, é uma máscara de prata recoberta com couro.

Apenas 54 de seus 241 ossos ainda estão lá, conforme revelou o Monsenhor Nolli ao Chicago Tribune. Os ossos faltantes, muito provavelmente, foram tomados como relíquias ao longo dos anos.

SÃO CHARBEL

São Charbel Makhlouf foi um monge da Igreja Maronita (uma igreja católica oriental que sempre esteve em comunhão com Roma). Ele viveu no século XIX, em um convento em Anaya, no Líbano.

Os relatos relacionados ao corpo desse santo talvez seja o mais impressionante entre todos os demais. Porque o que se diz é que, além de se manter naturalmente preservado com bom aspecto e flexível ao longo de muitos anos, o corpo de São Charbel emitia um fluxo constante de sangue e água, em um volume muito superior ao que um corpo humano poderia conter.

De fato, há relatos médicos, há relatos testemunhais… O problema é que, do ponto de vista da Ciência moderna, nada disso é verificável. Depois da última exumação, em 1950, o corpo de São Charbel rapidamente se desintegrou, e hoje restam seus ossos.

Vários sites afirmar que, na ocasião da exumação de 1950, o corpo do santo estava com a aparência de uma pessoa viva. Como vocês podem ver no vídeo abaixo, parece que esse pessoal exagerou “um pouco”…


É impossível tratar aqui de todos os casos. Porém conseguimos abordar alguns dos mais famosos exemplares, e informamos as principais fontes, para quem desejar estudar mais a fundo.
É possível crer que os corpos de algumas pessoas muito santas não passam pela putrefação. E se desintegram de forma bem mais lenta e “limpa”, digamos assim. Porém, isso pode ser dito como devoção popular, não como verdade científica. Porque o que muitos sites dizem por aí é que os corpos incorruptos de santos não podem ser explicados pela Ciência. E isso não é verdade.
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FONTE: OCATEQUISTA.COM.BR
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