A apicultura satisfaz a alma e ainda está profundamente ligada à liturgia
Há alguns meses, nossa família se tornou apicultora. Conseguimos algumas colônias de abelhas e as instalamos em duas colmeias lado a lado em frente a um campo de trevos.
As abelhas ocupam 20 acres de um pequeno vale selvagem e arborizado a poucos quilômetros ao norte do rio Missouri. Elas são livres para vagar aonde quiserem, coletando néctar de trevos selvagens, videiras e cornisos.
Não somos apicultores particularmente talentosos. Uma das colônias parece muito mais motivada que a outra – cada uma tira sua personalidade de sua rainha – e não sabemos como ajustar isso, mas até agora elas sobreviveram e até nos recompensaram com um pouco de mel extra.
Papel vital
As abelhas desempenham um papel vital, ainda que invisível, em tornar o mundo bonito. Elas têm um relacionamento complexo com as flores, que chamam sua atenção com suas cores e seu néctar doce, apenas para enviá-las pelos arredores com o pólen preso às pernas. Eu não acho que as abelhas estão reclamando disso, no entanto.
Afinal, as abelhas são as trabalhadoras ocultos que, espalhando esse pólen, fertilizam as flores e tornam as plantas capazes de produzir frutos. Sem as abelhas, não saberíamos o sabor de uma maçã. A fruta mal existiria.
Por exemplo, o Vale Central na Califórnia produz milhares de toneladas de amêndoas todos os anos, mas esses enormes pomares não conseguiriam produzir nem uma fração dessas amêndoas sem a ajuda das abelhas. Os apicultores levam suas colônias em caminhões durante a semana para ajudar.
Cera e liturgia
Hoje é um hobby generalizado e um grande negócio, mas não faz muito tempo que a apicultura era uma atividade mais especializada, especialmente entre monges e padres. Os religiosos sempre se interessaram pela apicultura – e é por isso que eu quis começar também – não pelo desejo insaciável de mel, mas porque as abelhas também fazem cera.
A cera de abelha faz as velas mais puras e brilhantes, que não produzem cheiro nem aquela fumaça que deixa o teto e as paredes sujos de fuligem. A cera de abelha também queima mais do que outros tipos de vela.
Hoje, embora as velas ainda brilhem nos altares das igrejas todos os dias, elas são uma tradição que lembra outros tempos. Antigamente, as velas não apenas proporcionavam um elemento de beleza e uma atmosfera reconfortante, mas também eram vitais para iluminar os espaços interiores.
Mas, de fato, até hoje, as velas que queimam nos altares católicos são obrigadas a conter cera de abelha como ingrediente principal.
Há uma razão interessante para isso: os sacerdotes sempre souberam que a cera de abelha é uma substância pura. Apenas as abelhas operárias produzem cera, e as abelhas operárias não acasalam com a rainha. Durante toda a vida, elas permanecem celibatárias e virginais. É por isso que as velas – pensemos, por exemplo, no Círio Pascal – são símbolos de Cristo. Elas fornecem luz sagrada, pois queimam a cera consumida em sacrifício e são feitas de material virgem.
A qualidade mística das abelhas
As abelhas, ao que parece, são altamente “teológicas”. Talvez por isso provoquem infinitas odes poéticas.
Enquanto observo nossas abelhinhas laboriosas zumbindo em torno de suas colmeias, fico constantemente espantado com sua perseverança, a maneira como pegam o pólen, um pó amarelado que a maioria despreza e considera a causa da miséria dos espirros, e o usa para cobrir os campos de flores. Qualquer que seja o pólen que grude nelas, ele se transformará em beleza.
Todos nós deveríamos ser mais como abelhas. Propagadores de beleza. Ou mais como velas. Uma luz cortando as sombras. Estas metáforas agarram-se a mim e não posso deixar de ouvir nelas a voz de Deus.
Perseverança, abnegação, beleza, pureza – todas são virtudes habituais que desejo praticar com dedicação cada vez maior, e assim transformar meus dias em um ato contínuo de amor. Cada um de nós é um semeador de flores nos campos.
FONTE: ALETEIA